Ao longo da história do Brasil, a educação esteve marcada por um modelo tradicionalista, introduzido pelos jesuítas no período colonial e perpetuado por práticas pedagógicas que priorizam a transmissão unilateral de conhecimento. Apesar de movimentos inovadores, como o da Escola Nova no início do século XX, a educação brasileira ainda enfrenta dificuldades em romper com a hierarquia rígida entre educadores e educandos, limitando o potencial transformador do processo educativo.
Esse modelo, descrito por Paulo Freire como “educação bancária”, caracteriza-se pela centralização do professor como detentor do saber, enquanto os alunos assumem um papel passivo, apenas acumulando informações sem reflexão crítica. Tal dinâmica não apenas limita a capacidade dos estudantes interpretarem a realidade em que vivem, mas também contribui para a formação de cidadãos apáticos e alienados, incapazes de questionar e transformar as estruturas sociais injustas que os cercam.
A perpetuação desse modelo está diretamente relacionada às desigualdades sociais e educacionais no Brasil. Escolas públicas, especialmente em regiões periféricas, sofrem com a falta de infraestrutura, formação docente insuficiente e políticas públicas pouco efetivas. Esses fatores dificultam a implementação de uma educação democrática, que deveria ser alicerçada no diálogo, na participação ativa e na construção coletiva do conhecimento.
Para que a educação cumpra seu papel emancipador, é imprescindível uma ampla reforma do sistema educacional de base. Essa transformação deve incluir a formação continuada de professores, capacitando-os para metodologias participativas e interativas, que valorizem o protagonismo dos estudantes. Além disso, é necessário que as escolas promovam espaços de escuta e diálogo, incentivando a participação ativa dos alunos na definição de projetos pedagógicos e na resolução de problemas reais de suas comunidades.
Ademais, políticas públicas devem garantir investimentos na infraestrutura escolar e na democratização do acesso à tecnologia, possibilitando que todos os estudantes tenham igualdade de oportunidades. A criação de conselhos escolares, compostos por professores, alunos, pais e gestores, pode fortalecer a gestão participativa, tornando a escola um espaço verdadeiramente democrático.
Portanto, a construção de uma educação democrática requer o esforço conjunto de toda a sociedade, com ações que vão além do ambiente escolar. Apenas por meio de um sistema educacional inclusivo, participativo e comprometido com a justiça social será possível formar cidadãos críticos, solidários e capazes de transformar a realidade em busca de um futuro mais equitativo e humano.
Fábio Gomes
Professor de Geografia
Nenhum comentário:
Postar um comentário