segunda-feira, 10 de fevereiro de 2025

O dilema da União Europeia

Desde a queda do Muro de Berlim, em 1989, e a dissolução do bloco soviético, em 1991, o mundo passou por mudanças profundas. Ao contrário do que previa Francis Fukuyama, a história não chegou ao fim e os acontecimentos continuam a nos surpreender.


Os avanços tecnológicos nos meios de transporte e de comunicação, em que satélites, cabos de fibra ótica e a internet, passaram a integrar cada vez mais o mundo, o que Milton Santos chamou de Meio Técnico-Científico-Informacional.


Na área econômica, os países buscaram formar parcerias comerciais, formando blocos econômicos como, por exemplo, a União Europeia, que, por meio do Tratado de Maastricht em 1993, estabeleceu um parlamento comum, um banco central e uma moeda única, o euro.


Entretanto, neste bloco há diferentes níveis de integração, tanto entre os países quanto para os seus habitantes nativos e estrangeiros. Apenas 17 países adotaram o euro como moeda nacional, assim como a livre circulação de pessoas não está liberada em todos os países de forma igualitária como no Espaço Schengen, trazendo assim enormes dificuldades para uma verdadeira integração econômica e social, bem como a consolidação e a fiscalização de suas fronteiras.


Entre os fatores que complicam a administração das fronteiras em seu território estão as guerras no Oriente Médio e na Ucrânia, que empurram centenas de milhares de refugiados para a Europa em busca de segurança e qualidade de vida. Para se ter uma ideia, apenas em 2023 contabilizou-se cerca de 385.000 imigrantes irregulares no continente, de acordo com o Parlamento Europeu.


Outro desafio são os movimentos nacionalistas que cobram dos seus governos maior fiscalização das fronteiras, até mesmo a deportação de imigrantes ilegais, culminando muitas vezes em violência xenófoba. Nesse sentido, essas ações de deportação em massa podem gerar uma escassez de empregos com baixa remuneração que os imigrantes assumem, mas que os nativos não querem.


Resta saber até quando a Europa conseguirá se integrar ao mundo e ao mesmo tempo responder aos anseios de suas populações.


Fábio Gomes
Professor de Geografia

sexta-feira, 7 de fevereiro de 2025

Resenha do livro: Meleagro - pesquisa do Catimbó e notas da magia branca no Brasil


CASCUDO, Luís da Câmara Cascudo.
Meleagro: pesquisa do Catimbó e notas da magia branca no Brasil. 2ª edição. Editora Agir, Rio de Janeiro, 1978.


Luís da Câmara Cascudo, filho de tradicional família potiguar, nasceu em Natal, em 30 de dezembro de 1898 e faleceu em  30 de julho de 1986. Estudou Humanidades no Colégio Atheneu Norte-Rio-Grandense, cursando posteriormente medicina na Bahia e Rio de Janeiro até o 4º ano, quando desistiu da carreira e ingressou na Faculdade de Direito do Recife, na qual se formou em 1928.

Meleagro é um trabalho no qual Cascudo elabora uma pesquisa científica sobre o Catimbó-Jurema na região do Nordeste brasileiro, região na qual o Catimbó está profundamente enraizado. De acordo com o autor, essa expressão religiosa surge a partir do sincretismo entre a magia europeia, africana e ameríndia, tornando-se popular entre as várias classes sociais em busca de soluções para os seus males.


No livro, a origem da palavra Catimbó é entendida como de origem Tupi e traduzida, grosso modo, como “fumaça de mato”, imagem simbólica que representa bem os rituais descritos na obra. Assim, a cada capítulo, o escritor potiguar vai se aprofundando em cada aspecto do universo catimbozeiro, como suas práticas ritualísticas, uso de ervas e amuletos, trabalhos feitos, entre outros.


O conhecimento do autor sobre as práticas religiosas pagãs na Europa, como na Grécia e Roma Antigas, leva o autor conceber a estreita relação entre a feitiçaria europeia, trazida pelos diferentes “magos e bruxos” chegados em terras de Pindorama, atual Brasil. Esse conhecimento se mesclou com as práticas africanas e indígenas, em que a criatividade e credulidade dos indivíduos reinventam crenças e rituais.


Cascudo também expõe a perseguição policial que muitos mestres de Catimbó sofriam, com apreensão de materiais ou até mesmo a prisão dos catimbozeiros. O Catimbó, com a influência das práticas negras e indígenas, nunca foi visto com bons olhos pela sociedade convencional. 


Assim, este livro é uma verdadeira fonte para os que buscam conhecer as práticas do Catimbó e sua riqueza cultural, sua influência na sociedade nordestina e brasileira.


Fábio Gomes
Professor de Geografia

quarta-feira, 5 de fevereiro de 2025

Celular em sala de aula: uma reflexão sobre a educação


O século XXI está repleto de desafios que a sociedade humana precisa discutir e encontrar soluções. Entre estes problemas, o uso de celulares por crianças e adolescentes nas escolas tem trazido diversas discussões.


Por um lado, há a necessidade das instituições educacionais se adaptarem aos novos tempos, criando o estímulo de se usar as tecnologias para potencializar o aprendizado, por meio de jogos, quizzes e outras interações digitais. 


Entretanto, um relatório da UNESCO de 2023 aponta para o declínio do aprendizado em diversos países devido ao uso indiscriminado dos celulares em sala de aula. Vários problemas foram identificados com o uso desses aparelhos, como distrações, cyberbullying, ansiedade e depressão.


Assim, a sociedade entra num dilema: liberar ou proibir o uso de celulares nas escolas. Diversos países tomaram iniciativa de proibir o uso de celulares nas salas de aula, como Estados Unidos, Canadá e França. 


No caso do Brasil, o Senado aprovou em 2023 um projeto de lei que proíbe o uso de celulares totalmente para o Ensino Infantil, e parcialmente para o Ensino Fundamental e Médio. O uso parcial está liberado especificamente para atividades pedagógicas orientadas pelo professor ou para o auxílio de pessoas com deficiência. 


Apesar do avanço através dessa lei, o verdadeiro problema começa em casa, onde pais e responsáveis, em geral, não têm nenhum controle sobre o uso dos celulares por seus filhos. Crianças que almoçam com celular na mão, adolescentes que perdem noites de sono em jogos digitais, entre outros usos distorcidos destas tecnologias.  


Portanto, é essencial criar uma nova cultura que envolva as famílias para uma educação digital dentro de seus lares, pois não adianta proibir seu uso nas escolas e em casa continuar com as mesmas práticas compulsivas, que inevitavelmente terão impactos em sua saúde mental e socialização.


O poder público deve urgentemente criar uma campanha para a educação digital dos pais e responsáveis, que direcione o uso dos celulares por crianças e adolescentes de forma moderada e racional.


A educação é um processo que envolve o Estado, a família e a escola, portanto, somente trabalhando de forma articulada poderão criar uma cultura digital saudável e benéfica para o aprendizado dos jovens cidadãos.


Fábio Gomes

Professor de Geografia

terça-feira, 4 de fevereiro de 2025

Campo com vida é ter na mesa comida


Dados do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE) revelam que 278.299 focos de incêndios florestais foram contabilizados no Brasil em 2024. As chamas se espalharam pelos principais ecossistemas brasileiros, causando a destruição da vegetação nativa, morte de espécies animais e problemas de saúde para a população dos estados atingidos. De acordo com a Polícia Federal a maior parte é considerada de origem criminosa e que, portanto, deve ser investigada e punida.

Historicamente no Brasil, a concentração de terras nas mãos de uma pequena minoria, como é o caso da Lei de Terras de 1850, fez com que o Estado ficasse refém de uma elite agrária que sempre impõe seus interesses acima do bem comum, acarretando pouca fiscalização e quase nenhuma punição para os crimes cometidos.

Nesse sentido, muitos latifundiários acreditam que podem violar impunemente a Legislação Ambiental Brasileira, sob o pretexto da produção agrícola, ou seja, que “para plantar é necessário queimar”.

Entretanto, com as mudanças climáticas geradas pela ação humana que desde a Revolução Industrial no século XVIII, as temperaturas vêm aumentando consideravelmente, pelo menos 1 ºC, de acordo com o IPCC, ocasionadas pela queima de combustíveis fósseis e pelo desmatamento.

Os ecossistemas, por sua vez, perdem a capacidade de se adaptarem à velocidade do aumento da temperatura. Os biomas ficam instáveis e a fauna e flora entram em processo de extinção. A vegetação fragilizada permanece seca por mais tempo, o que demonstra o perigo de atear fogo indiscriminadamente.

Assim, é necessário além de uma fiscalização mais rígida e punição exemplar para os criminosos, que o Estado, por meio da colaboração entre o Ministério da Educação e do Meio Ambiente, deve investir na construção de escolas agrícolas populares nas comunidades rurais, assim como oferecer um sistema de crédito para os produtores orgânicos certificados, ações que visam substituir a prática arcaica das queimadas por novas formas de produção agrícola baseadas na agroecologia e na permacultura para que o país caminhe para o desenvolvimento verdadeiramente sustentável.


Fábio Gomes

Professor de Geografia

segunda-feira, 3 de fevereiro de 2025

Por uma educação libertadora

 

Ao longo da história do Brasil, a educação esteve marcada por um modelo tradicionalista, introduzido pelos jesuítas no período colonial e perpetuado por práticas pedagógicas que priorizam a transmissão unilateral de conhecimento. Apesar de movimentos inovadores, como o da Escola Nova no início do século XX, a educação brasileira ainda enfrenta dificuldades em romper com a hierarquia rígida entre educadores e educandos, limitando o potencial transformador do processo educativo.

Esse modelo, descrito por Paulo Freire como “educação bancária”, caracteriza-se pela centralização do professor como detentor do saber, enquanto os alunos assumem um papel passivo, apenas acumulando informações sem reflexão crítica. Tal dinâmica não apenas limita a capacidade dos estudantes interpretarem a realidade em que vivem, mas também contribui para a formação de cidadãos apáticos e alienados, incapazes de questionar e transformar as estruturas sociais injustas que os cercam.

A perpetuação desse modelo está diretamente relacionada às desigualdades sociais e educacionais no Brasil. Escolas públicas, especialmente em regiões periféricas, sofrem com a falta de infraestrutura, formação docente insuficiente e políticas públicas pouco efetivas. Esses fatores dificultam a implementação de uma educação democrática, que deveria ser alicerçada no diálogo, na participação ativa e na construção coletiva do conhecimento.

Para que a educação cumpra seu papel emancipador, é imprescindível uma ampla reforma do sistema educacional de base. Essa transformação deve incluir a formação continuada de professores, capacitando-os para metodologias participativas e interativas, que valorizem o protagonismo dos estudantes. Além disso, é necessário que as escolas promovam espaços de escuta e diálogo, incentivando a participação ativa dos alunos na definição de projetos pedagógicos e na resolução de problemas reais de suas comunidades.

Ademais, políticas públicas devem garantir investimentos na infraestrutura escolar e na democratização do acesso à tecnologia, possibilitando que todos os estudantes tenham igualdade de oportunidades. A criação de conselhos escolares, compostos por professores, alunos, pais e gestores, pode fortalecer a gestão participativa, tornando a escola um espaço verdadeiramente democrático.

Portanto, a construção de uma educação democrática requer o esforço conjunto de toda a sociedade, com ações que vão além do ambiente escolar. Apenas por meio de um sistema educacional inclusivo, participativo e comprometido com a justiça social será possível formar cidadãos críticos, solidários e capazes de transformar a realidade em busca de um futuro mais equitativo e humano.

Fábio Gomes

Professor de Geografia

domingo, 2 de fevereiro de 2025

Texto de boas-vindas!

Bem-vindo/as ao Blog Território do Conhecimento: explorando o mundo através da ciência geográfica.

No vasto universo do saber, onde a educação, a cultura e a ciência se entrelaçam, nasce o Território do Conhecimento, um blog dedicado a desvendar os mistérios do nosso planeta e além, sob uma perspectiva geográfica. Aqui, mergulhamos nas atualidades que moldam o mundo, exploramos curiosidades que despertam a curiosidade e conectamos os pontos entre as diferentes áreas do conhecimento para oferecer uma visão única e enriquecedora.  

Nosso objetivo é ser uma bússola para aqueles que buscam compreender as complexidades do espaço geográfico, desde as dinâmicas sociais e culturais até os fenômenos naturais e ambientais que influenciam nossa vida cotidiana.

No Território do Conhecimento, você encontrará:

* Atualidades: Análises geopolíticas, mudanças climáticas, urbanização e outros temas quentes do momento, sempre com um olhar crítico e informativo.

* Cultura: Viagens pelo patrimônio cultural local, regional e mundial, explorando como a geografia influencia tradições, arte, música e identidades.

* Ciência: Descobertas científicas que impactam nossa compreensão do planeta, desde a geologia até a astronomia, passando pela ecologia e inovação tecnológica.

* Curiosidades: Fatos surpreendentes sobre lugares, fenômenos naturais e eventos históricos que mostram o quão fascinante e interconectado é o nosso mundo.

* Dicas de estudos: Dicas de estudos para vestibulares, ENEM, processos seletivos, concursos públicos, etc.

Seja você um estudantes, um educador, um viajante ou simplesmente um curioso, o Território do Conhecimento é o seu espaço para aprender, questionar e se encantar. Vamos juntos explorar o mundo, desbravar fronteiras e expandir horizontes, porque o conhecimento é a chave para entender o presente e construir um futuro melhor.

Prepare-se para embarcar nessa jornada geográfica conosco. O mundo é vasto, e há muito a descobrir. 

  BARRETO, Afonso Henrique de Lima. Os Bruzundangas. Porto Alegre: L&PM, 1998. Lima Barreto (1881-1922) foi um importante escritor e jor...